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A cidade e as serras

O Silverio teve o riso superior de quem habita regiões civilisadas e bem providas...

— Então não havia d’haver? Pois ha um boticario, em Guiães, lá quasi ao pé da casa aqui do nosso amigo. E homem entendido... o Firmino, hein, Snr. Fernandes? Homem capaz. Medico é o Dr. Avelino, d’aqui a legoa e meia, nas Bolsas. Mas já V. Ex.a vê, esta gentinha é pobre!... Tomaram elles para pão, quanto mais para remedios!

E de novo se estabeleceu um silencio, sob o alpendre, onde penetrava a friagem crescente da serra encharcada. Para além do rio, a promettedora claridade não se alargára entre as duas espessas cortinas pardacentas. No campo, em declive deante de nós, ia um longo correr de ribeiros barrentos. Eu terminára por me sentar na ponta d’um madeiro, enervado, já com a fome aguçada pela manhã agreste. E Jacintho, na borda do carro, com os pés no ar, cofiava os bigodes humidos, palpava a face, onde, com espanto meu, reapparecera a sombra, a sombra triste dos dias passados, a sombra do 202!

E, então, surdiu por traz da parede do alpendre um rapasito, muito rotinho, muito magrinho, com uma carita miuda, toda amarella sob a porcaria, e onde dous grandes olhos pretos se arregalavam para nós, com