Página:A cidade e as serras (1901).pdf/304

Wikisource, a biblioteca livre
290
A cidade e as serras

com um vago telhado, de telha musgosa e negra, um postigo no alto, e a rude porta que servia para o ar, para a luz, para o fumo, e para a gente. E em redor, a Natureza e o Trabalho tinham, através d’annos, accumulado ali trepadeiras e flôres silvestres, e cantinhos d’horta, e sebes cheirosas, e velhos bancos roidos de musgo, e panellas com terra onde crescia salsa, e regueiros cantantes, e videiras enforcadas nos olmos, e sombras e charcos espelhados, que tornavam deliciosa, para uma Ecloga, aquella morada da Fome, da Doença e da Tristeza.

Cautelosamente, com a ponteira do guarda-chuva, Silverio empurrou a porta, chamando:

— Eh! tia Maria... Olá rapariga!

E na fenda entreaberta appareceu uma moça, muito alta, escura e suja, com uns tristes olhos pisados, que se espantaram para nós, serenamente.

— Então como vae a tua mãe? — Abre lá a porta, que estão aqui estes senhores...

Ella abriu, lentamente, e ia murmurando n’uma voz dolente e arrastada mas sem queixume, que um vago, resignado sorriso acompanhava:

— Ora, coitada! como ha de ir? Malzinha... malzinha.

E dentro, n’um gemido que subia como