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A cidade e as serras

revelava á rapariga, a presença augusta do «fidalgo», por que a sentimos, da porta, levantar a voz dolorida:

— Ai! Nosso Senhor lhe dê muito boa sorte! Nosso Senhor o acompanhe!

Quando o Silverio, com as grandes passadas das suas grandes botas, nos colheu, no meio do campo, Jacintho parára, olhava para mim, com os dedos tremulos a torturar o bigode, e murmurava:

— É horrivel, Zé Fernandes, é horrivel.

Ao lado, o vozeirão do Silverio trovejou:

— Que queres tu outra vez, rapaz? Vae para a tua mãe, creatura!

Era o pequeno rotinho, esfaimadinho, que se prendia a nós, n’um immenso pasmo das nossas pessoas, e com a confusa esperança, talvez, que d’ellas, como de Deuses encontrados n’um caminho, lhe viesse affago ou proveito. E Jacintho, para quem elle mais especialmente arregalava os olhos tristes, e que aquella miseria, e a sua muda humildade, embaraçavam, acanhavam horrivelmente, só soube sorrir, murmurar o seu vago: «Está bem, está bem...» Fui eu que dei ao pequenito um tostão, para o fartar, o despegar dos nossos passos. Mas como elle, com o seu tostão bem agarrado, nos seguia ainda, como no sulco da nossa magnificencia, o Silverio teve de o espantar,