Página:A cidade e as serras (1901).pdf/308

Wikisource, a biblioteca livre
294
A cidade e as serras

para voltar ámanhã, e em cada dia; até que ella melhore... Escute! E quero, Melchior, que lhe leve dinheiro, para os caldos, para a dieta, uns dez, ou quinze mil réis... Bastará?

O Procurador não conteve um riso respeitoso. Quinze mil réis! Uns tostões bastavam... Nem era bom acostumar assim, a tanta franqueza, aquella gente. Depois todos queriam, todos pedinchavam...

— Mas é que todos hão-de ter, disse Jacintho simplesmente.

— V. Ex.a manda, murmurou o Silverio.

Encolhera os hombros, parado no caminho, no espanto d’aquellas extravagancias. Eu tive de o apressar, impaciente:

— Vamos conversando e andando! É meio dia! Estou com uma fome de lobo!

Caminhamos, com o Silverio no meio, pensativo, a fronte enrugada sob a vasta aba do chapeu, a barba immensa espalhada pelo peito, e a barraca exorbitante do guarda-chuva vermelho enrolada debaixo do braço. E Jacintho, puxando nervosamente o bigode, arriscava outras idéas bemfazejas, cautelosamente, no seu indominavel medo do Silverio:

— E as casas tambem... Aquella casa é um covil!... Gostava de abrigar melhor aquella pobre gente... E naturalmente, as dos outros