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A cidade e as serras
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correr, reentrar na Cidade, mergulhar nas ondas lustraes da Civilisação, para largar n’ellas a crosta vegetativa, e resurgir re-humanisado, de novo espiritual e Jacinthico!

E estas requintadas metaphoras do meu amigo exprimiam sentimentos reaes — que eu testemunhei, que muito me divertiram, no unico passeio que fizemos ao campo, á bem amavel e bem sociavel floresta de Montmorency. Oh delicias d’entremez, Jacintho entre a Natureza! Logo que se afastava dos pavimentos de madeira, do macadam, qualquer chão que os seus pés calcassem o enchia de desconfiança e terror. Toda a relva, por mais crestada, lhe parecia reçumar uma humidade mortal. De sob cada torrão, da sombra de cada pedra, receava o assalto de lacraus, de viboras, de fórmas rastejantes e viscosas. No silencio do bosque sentia um lugubre despovoamento do Universo. Não tolerava a familiaridade dos galhos que lhe roçassem a manga ou a face. Saltar uma sebe era para elle um acto degradante que o retrogradava ao macaco inicial. Todas as flôres que não tivesse já encontrado em jardins, domesticadas por longos seculos de servidão ornamental, o inquietavam como venenosas. E considerava d’uma melancolia funambulesca certos modos e fórmas do Sêr inanimado, a pressa esperta e vã dos regatinhos,