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A cidade e as serras

— Mas então, Ex.mo Senhor, é uma revolução!

E como nós, irresistivelmente, riamos dos seus olhos esgazeados de horror, dos seus immensos braços abertos para traz, como se visse o mundo desabar, — o bom Silverio encavacou:

— Ah! V. Ex.as riem? Casas para todos, mobilias, pratas, bragal, dez contos de réis! Então tambem eu rio! Ah! ah! ah! Ora viva a bella chalaça!... Está bôa a risota!

E subitamente, n’uma profunda mesura, como declinando toda a responsabilidade n’aquelle disparate magnifico:

— Emfim, V. Ex.a é quem manda!

— Está mandado, Silverio. E tambem quero saber as rendas que paga essa gente, os contractos que existem, para os melhorar. Ha muito que melhorar. Venha vossê almoçar comnosco. E conversamos.

Tão saturado d’espanto estava o Silverio, que nem recebeu mais espanto com essa «melhoria de rendas». Agradeceu o convite, penhorado. Mas pedia licença a Sua Ex.a para passar primeiramente pelo lagar, para ver os carpinteiros que andavam a concertar a trave do rio. Era um instante, e estava em seguida ás ordens de S. Ex.a.

Metteu a corta matto, saltando um cancello.