Página:A cidade e as serras (1901).pdf/326

Wikisource, a biblioteca livre
312
A cidade e as serras

apontando com a mão tremula para a pobre egoa, que solta, de cabeça pensativa, parecia de pedra, sobre as patas mais immoveis que marcos:

— Pois se o siô Fernandes visse! Uma fera, que nunca veiu quieta. Sempre para a esquerda, sempre para a direita, pé aqui, pé além! Só para me sacudir! Só para me sacudir!

E não resistiu. Com a ponta do guarda-sol atirou uma pontoada vingativa contra a egoa, sobre o albardão.

Subindo a escadaria ligeira, penetrando no alegre corredor, com a sua janella ao fundo engrinaldada de rosinhas, Jacintho louvava grandemente a nossa casa, que o repousava das rijas muralhas, das grossas portas feudaes de Tormes. E no seu quarto agradeceu os cuidados maternaes da tia Vicencia, que enchera de flores os dois vasos da China sobre a commoda, e adornára a cama com uma das nossas colxas da India mais ricas, côr de canario, com grandes aves d’ouro. Eu sorria, enternecido. Então estreitamos os ossos n’um grande abraço, pelo natalicio... «Trinta e oito, hein, Zé Fernandes?» — «Trinta e quatro, animal!» E o meu Principe abrindo a mala, sobria maleta de philosopho, offereceu os «nobres presentes, que são devidos», como diz sempre o astuto Ulysses na Odyssea. Era um alfinete de gravata,