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A cidade e as serras
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contei a historia, profusamente, exaggerando, affirmando que esse arroz doce continha foie gras, e que sobre a sua ornamentada pyramide fluctuava a bandeira tricolor, por cima do busto do conde de Chambord! Mas o arroz doce de Paris, assim estragado tão longe da Serra, não interessára ninguem. Puxou apenas alguns sorrisos de polida condescendencia, quando eu, alternadamente, me voltava para um cavalheiro, para uma senhora, insistindo, exclamando: — Extraordinario, hein?

D. Theotonio observou, mysteriosamente, que o «cosinheiro sabia para quem cosinhava.» E a bella mulher do Dr. Alypio ousou murmurar, corando:

— Havia de ser bonito prato, e talvez não fosse mau!

Eu, sempre na ancia de espiritualisar o banquete, de produzir conversação, ataquei com desabrida alegria a Snr.a D. Luiza, por ella assim defender a profanação do nosso grande acepipe nacional! Mas, pobre de mim! tão excessiva e ruidosamente interpellei a formosa senhora, que ella se enconchou, emmudeceu, toda corada, e mais formosa assim. E outro silencio se abatia sobre a mesa, como uma nevoa, quando a tia Vicencia, providencial, se desculpou para com Jacintho de não ter peixe! Mas quê! ali na Serra era impossivel,