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A cidade e as serras

lembrava-me aquella manhã, no 202, em que Jacintho encontrára o retrato d’ella no meu quarto, e lhe chamára uma lavradeirôna. Com effeito, era grande e forte a Joanninha. Mas a photographia datava do seu tempo de viço rustico, quando ella era apenas uma bella forte e sã planta da serra. Agora entrava nos vinte e cinco, e já pensava, e sentia, — e a alma que n’ella se formára, afinára, amaciára, e espiritualisava o seu esplendor rubicundo.

A manhã, com o ceu todo purificado pela trovoada da vespera, e as terras reverdecidas e lavadas pelos chuviscos ligeiros, offerecia uma doçura luminosa, fina, fresca, que tornava doce, como diz o velho Euripedes ou o velho Sophocles, mover o corpo, e deixar a alma preguiçar, sem pressa nem cuidados. A estrada não tinha sombra, mas o sol batia muito de leve, e roçava-nos com uma caricia quasi alada. O valle parecia a Jacintho, que nunca ali passára, uma pintura da Escola Franceza do seculo XVIII, tão graciosamente n’elle ondulavam as terras verdes, e com tanta paz e frescura corria o risonho Serpão, e tão affaveis e promettedores de fartura e contentamento alvejavam os casaes nas verduras tenras! Os nossos cavallos caminhavam n’um passo pensativo, gosando tambem a paz da manhã adoravel. E não sei, nunca soube, que plantasinhas