Página:A cidade e as serras (1901).pdf/366

Wikisource, a biblioteca livre
352
A cidade e as serras

porcellana, para fabricar queijinhos que custariam duzentos mil réis cada um!

Tambem a paternidade lhe despertára a responsabilidade. Jacintho possuia agora um caderno de contas, ainda pequeno, rabiscado a lapis, com falhas, e papeluchos soltos entremeados, mas onde as suas despezas, as suas rendas se alinhavam, como duas hostes disciplinadas. Visitára já as suas propriedades de Montemór, da Beira; e concertava, mobilava as velhas casas d’essas propriedades para que os seus filhos, mais tarde, crescidos, encontrassem «ninhos feitos». Mas onde eu reconheci que definitivamente um perfeito e ditoso equilibrio se estabelecera na alma do meu Principe, foi quando elle, já sabido d’aquelle primeiro e ardente fanatismo da Simplicidade — entreabrio a porta de Tormes á Civilisação. Dous mezes antes de nascer a Theresinha, uma tarde, entrou pela avenida de platanos uma chiante e longa fila de carros, requisitados por toda a freguesia, e acuculados de caixotes. Eram os famosos caixotes, por tanto tempo encalhados em Alba de Tormes, e que chegavam, para despejar a Cidade sobre a Serra. Eu pensei: — Mau! o meu pobre Jacintho teve uma recahida! Mas os confortos mais complicados, que continha aquella caixotaria temerosa, foram, com surpreza minha, desviados