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A cidade e as serras
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muito vistas, murmurando historias muito sabidas, e cousas muito ditas, atravez de sorrisos estafados. Dos dous lados do comboio era a longa planicie monotona, sem variedade, muito miudamente cultivada, muito miudamente retalhada, d’um verde de rezeda, verde cinzento e apagado, onde nenhum lampejo, nem tom alegre de flôr, nem acidente do solo, desmanchavam a mediocridade discreta e ordeira. Pallidos choupos, em renques pautados e finos, bordavam canaesinhos muito direitos e claros. Os casaes, todos da mesma côr pardacenta, mal se elevavam do solo, mal se destacavam da verdura desbotada, como encolhidos na sua mediocridade e cautella. E o ceu, por cima, liso, sem uma nuvem, com um sol descórado, parecia um vasto espelho muito lavado a grande agoa, até que de todo se lhe safasse o esmalte e o brilho. Adormeci n’uma doce insipidez.

Com que linda manhã de Maio entrei em Paris! Tão fresca e fina, e já macia, que, apesar de cansado, mergulhei com repugnancia no profundo, sombrio leito do Grand-Hotel, todo fechado de espessos velludos, grossos cordões, pesadas borlas, como um palanque de gala. N’essa profunda cova de pennas sonhei que em Tormes se construira uma torre Eiffel e que em volta d’ella as senhoras da Serra,