Página:A cidade e as serras (1901).pdf/387

Wikisource, a biblioteca livre
A cidade e as serras
373

um aspero e lugubre namoro de prostitutas, fariscando a preza. Em duas d’ellas, de pelle oleosa e cobreada, olhos obliquos, cabellos duros e negros como clinas, senti o Oriente, a sua provocação felina... Interroguei o creado, um medonho ser, d’uma obesidade balofa e livida, d’eunuco. O monstro explicou n’uma voz roufenha e surda:

— Mulheres de Madagascar... Foram importadas quando a França occupou a ilha!

Arrastei então por Paris dias d’immenso tedio. Ao longo do Boulevard revi nas vitrines todo o luxo, que já me enfartára havia cinco annos, sem uma graça nova, uma curta frescura de invenção. Nas livrarias, sem descobrir um livro, folheava centenas de volumes amarellos, onde, de cada pagina que ao acaso abria, se exhalava om cheiro môrno d’alcova e de pós d’arroz, entre linhas trabalhadas com effeminado arrebique, como rendas de camisas. Ao jantar, em qualquer restaurante, encontrava, ornando e disfarçando as carnes ou as aves, o mesmo môlho, de côres e sabores de pomada, que já de manhã, n’outro restaurante, espelhado e dourejado, me enjoára no peixe e nos legumes. Paguei por grossos preços garrafas do nosso adstringente e rustico vinho de Torres, ennobrecido com o titulo de Château isto, Château aquillo, e pó postiço no