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A cidade e as serras

gargalo. Á noite, nos theatros, encontrava a Cama, a costumada cama, como centro e unico fim da vida, attrahindo, mais fortemente que o monturo attrahe os moscardos, todo um enxame de gentes, estonteadas, frementes d’erotismo, zumbindo chacotas senis. Esta sordidez da Planicie me levou a procurar melhor aragem d’espirito nas alturas da Collina, em Montmartre; e ahi, no meio d’uma multidão elegante de Senhoras, de Duquezas, de Generaes, de todo o alto pessoal da Cidade, eu recebia, do alto do palco, grossos jorros de obscenidades, que faziam estremecer de goso as orelhas cabelludas de gordos banqueiros, e arfar com delicia os corpetes de Worms e de Doucet, sobre os peitos postiços das nobres damas. E recolhia enjoado com tanto relento d’Alcova, vagamente dispeptico com os môlhos de pomada do jantar, e sobre tudo descontente comigo, por me não divertir, não comprehender a Cidade, e errar atravez d’ella e da sua Civilisação Superior, com a reserva ridicula d’um Censor, d’um Catão austero. Oh senhores! — pensava, — pois eu não me divertirei nesta deliciosa Cidade? Entrará comigo o bolor da velhice?

Passei as pontes, que separam em Paris o Temporal do Espiritual, mergulhei no meu doce Bairro Latino, evoquei, deante de certos