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A cidade e as serras
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appareceu com um masso de jornaes e papeis, que eu esquecera na carruagem. Era uma papelada, de que me surtira na Estação d’Orleans, toda recheada de mulheres nuas, de historietas sujas, de parisianismo, d’erotismo. Jacintho, que as reconhecera, gritou rindo:

— Deita isso fóra!

E eu atirei, para um montão de lixo, ao canto do Pateo, aquelle putrido rebotalho da Civilisação. E montei. Mas ao dobrar para o caminho empinado da serra, ainda me voltei, para gritar adeus ao Pimenta, de quem me esquecera. O digno chefe, debruçado sobre o monturo, apanhava, sacudia, recolhia com amor aquellas bellas estampas, que chegavam de Paris, contavam as delicias de Paris, derramavam atravez do mundo a seducção de Paris.

Em fila começamos a subir para a Serra. A tarde adoçava o seu esplendor d’estio. Uma aragem trazia, como offertados, perfumes das flôres silvestres. As ramagens moviam, com um aceno de doce acolhimento, as suas folhas vivas e relusentes. Toda a passarinhada cantava, n’um alvoroço de alegria e de louvor. As agoas correntes, saltantes, lusidias, despediam um brilho mais vivo, n’uma pressa mais animada. Vidraças distantes de casas