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A cidade e as serras

d’Oriol a uma exposição de leques; escolher um presente de noivado para a sobrinha dos Trèves; comparecer no funeral do velho conde de Malville; presidir um tribunal de honra n’uma questão de roubalheira, entre cavalheiros, ao ecarté... E ainda se acavallavam outras indicações, escrivinhadas por Jacintho a lapis: — «Carroceiro — Five-oclock dos Ephrains — A pequena das Variedades — Levar a nota ao jornal...» Considerei o meu Principe. Estirado no divan, d’olhos miserrimamente cerrados, bocejava, n’um bocejo immenso e mudo.

Mas os affazeres de Jacintho começavam logo no 202, cedo, depois do banho. Desde as oito horas a campainha do telephone repicava por elle, com impaciencia, quasi com colera, como por um escravo tardio. E mal enxugado, dentro do seu roupão de pello de cabra do Thibet ou de grossas pyjamas de pelucia côr d’ouro-velho, constantemente sahia ao corredor a cochichar com sujeitos tão apressados, que conservavam na mão o guarda-chuva pingando sobre o tapete. Um d’esses, sempre presente (e que pertencia decerto aos Telephones de Constantinopla), era temeroso — todo elle chupado, tisnado, com maus dentes, sobraçando uma enorme pasta sebenta, e dardejando, d’entre a alta gola d’uma pelissa poida,