Página:A cidade e as serras (1901).pdf/62

Wikisource, a biblioteca livre
48
A cidade e as serras

e do seu estridor. Encostado e como refugiado no meu braço, este Jacintho novo começou a lamentar que as ruas, na nossa Civilisação, não fossem calçadas de gutta-percha! E a gutta-percha claramente representava, para o meu amigo, a substancia discreta que amortece o choque e a rudeza das cousas. Oh maravilha! Jacintho querendo borracha, a borracha isoladora, entre a sua sensibilidade e as funcções da Cidade! Depois, nem me permittiu pasmar diante d’aquellas dourejadas e espelhadas lojas que elle outr’ora considerava como os «preciosos museus do seculo XIX»...

— Não vale a pena, Zé Fernandes. Ha uma immensa pobreza e seccura d’invenção! Sempre os mesmos florões Luiz XV, sempre as mesmas pelucias... Não vale a pena!

Eu arregalava os olhos para este transformado Jacintho. E sobretudo me impressionava o seu horror pela Multidão — por certos effeitos da Multidão, só para elle sensiveis, e a que chamava os «sulcos».

— Tu não os sentes, Zé Fernandes. Vens das serras... Pois constituem o rijo inconveniente das Cidades, estes sulcos! É um perfume muito agudo e petulante que uma mulher larga ao passar, e se installa no olfacto, e estraga para todo o dia o ar respiravel. É um dito que se surprehende n’um grupo, que