Página:A cidade e as serras (1901).pdf/93

Wikisource, a biblioteca livre
A cidade e as serras
79

branco com bordados d’ouro pallido parecia uma camisa, a escorregar. Impressionado, ainda retive Todelle, rugi baixinho: — «Quem é?» Mas já o festivo homem correra para Madame d’Oriol, com quem riam, n’uma familiaridade superior e facil, Marizac (o duque de Marizac) e um moço de barba côr de milho e mais leve que uma penugem, que se balouçava gracilmente sobre os pés, como uma espiga ao vento. E eu, encalhado contra o piano, esfregava lentamente as mãos, amassando o meu embaraço, quando Madame Verghane se ergueu do sophá onde conversava com um velho (que tinha a Gran-Cruz de Santo André), e avançou, deslizou no tapete, pequena e nedia, na sua copiosa cauda de velludo verde-negro. Tão fina era a cinta, entre os encontros fecundos e a vastidão do peito, todo nú e côr de nacar, que eu receava que ella partisse pelo meio, no seu lento ondular. Os seus famosos bandós negros, d’um negro furioso, inteiramente lhe tapavam as orelhas; e, no grande aro d’ouro que os circumdava, reluzia uma estrella de brilhantes, como na fronte dos anjos de Boticelli. Conhecendo sem dúvida a minha auctoridade no 202, ella despediu sobre mim ao passar, como raio benefico, um sorriso que lhe liquescia mais os olhos liquidos, e murmurou:.