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Página:A escrava Isaura (1875).djvu/98

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dias em respeito á dor de que julgava seo marido acabrunhado, lhe tocou naquelle melindroso negocio:

— Temos tempo, Malvina, — respondeo-lhe o marido com toda a calma. — E’-me preciso em primeiro lugar dar balanço e fazer o inventario da casa de meo pae. Tenho de ir á côrte arrecadar os seos papeis e tomar conhecimento do estado de seos negocios. Na volta e com mais vagar trataremos de Isaura.

Ao ouvir esta resposta o rosto de Malvina cobrio-se de palidez mortal; ella sentio esfriar-lhe o coração apertado entre as mãos geladas do mais pungente dissabor, como se ali se esmoronasse de repente todo o sonhado castello de suas venturas conjugaes. Ella esperava que o marido fulminado por tão doloroso golpe naquelles dias de amarga meditação e abatimento, retrahindo-se no santuario da consciencia, reconhecesse seos erros e desvarios, implorasse o perdão delles, e se propuzesse a entrar nas sendas do dever e da honestidade. As frias desculpas e futeis evasivas do marido vierão submergil-a de chofre no mais amargo e profundo desalento.

— Como?! — exclamou ella com um accento que exprimia a um tempo altiva indignação e o mais entranhado desgosto. — Pois ainda hesitas em cumprir tão sagrado dever?... se tivesses alma, Leoncio, terias considerado Isaura como