Página:A escravidão dos negros.pdf/88

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     Um camponez escravo goza, mediante as mais duras de uma casa, d'um campo, pertencentes á seu amo; offereça-se-lhes a liberdade, isto é, a perda da casa e do unico meia de subsistencia de que dispõe, e nada mais natural no que vêl-o preferil a escravidão!

     Mas, ¿não é, por ventura, tão ridiculo como atroz sustentar que um homem está bem, só porque prefere viver miseravel á morrer de fome?

     Ha quem se atreva a dizer que os escravos estam em melhores condicções de vida do que, não os nossos camponezes e os da Inglaterra e Hollanda, mas os da França e Hespanha,

     Admittamos, primeiramente, que assim seja. N’esse caso, como a excessiva miseria d’estes camponezes é o resultado dos impostos, das oppressões e das prohibições, denominadas, óra policia, óra animação ás manutacturas, isto é, o resultado de más leis; — este raciocinio se reduz ao seguinte: — Ha paizes em que chegou-se a tornar homens livres mais desgraçados que os proprios escravos, convém portanto ter cuidado em conservar a escravidão. — Em segundo logar, é falsa semelhante allegação. Ella poude ser proferida de bôa fé por homens a quem as miserias publicas, que testemunharam, tinham revoltado; póde, ainda, ser o grilo de indignação d'uma alma bem fórmada; mas nunca póderá ser considerada como uma asserção reflectida. Nos citados paizes, ha sempre, na realidade, uma diminuta parte do povo que se destróe pela miseria; mas é muito duvidoso que um mendigo seja mais infeliz