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CONDORCET
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porte — para elle insolencia, — as razões que oppõem aos seus caprichos, e a propria coragem com que soffrem seus castigos e torturas. Demais, os escravos pódem ser seus rivaes, e naturalmente devem ser preferidos.

     Objectar-me-hão, ainda, com a humanidade dos colonos, senhores d'escravos, allegando que, homens distinctos por seus meritos, honrados com a estima publica, incumbidos das principaes funcções publicas nas quatro nações mais importantes da Europa, teem fazendas cultivadas por meio de escravos; e me censurarão por tratal-os como criminosos que, cada dia que deixam de trabalhar para quebrar os ferros de seus escravos, deshonram-se com um novo crime.

     Pois, eu ainda accrescento que Arestides, Epaminondas, Catão mõço, e Marco Aurelio tinham escravos. Mas, quem tem reflectido sobre a história da moral não póde ter deixado de nótar que a honestidade consiste, em cada nação, apenas em não fazer, mesmo na certeza de segredo, o que seria deshonroso quando conhecido pelo publico. Quando uma acção criminosa por si mesma não é deshonrosa perante a opinião publica, poucos ha que a não commettam sem remorsos. Essa moral, cuja sancçào unica está no coração e cujas maximas são dictadas pela razão esclarecida, essa verdadeira moral natural nunca foi, em povo algum, senão a partilha de alguns homens.

     Os eurupêos proprietarios das colonias são muito para lastimar por se deixarem guiar por uma falsa consciencia, e tanto mais quanto essa consciencia, — que os guia, não