Página:A ilha maldita (seguido de) O pão de ouro. (1879).djvu/137

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— Pois vi, sim, senhor; posso jurar se for preciso. Por sinal que é uma mulher alta, benfeita, cinturinha delicada, ombros e braços alvos e roliços, com uns cabelos muito compridos, que andam a esvoaçar com o vento, e traz na cabeça uma grinalda de flores amarelas…

— Mas dize-me cá uma coisa, da cintura para baixo não tinha figura de peixe?

— Lá isso não; eu a vi andar como as outras mulheres com um vestido branco bem comprido, que às vezes arregaçava um pouco para subir aos rochedos, e vi-lhe o pé e a perna tão benfeita como as mais benfeitas.

— Então não era sereia; decerto estavas sonhando, meu rapaz. E como poderias tu lá chegar se o mar ali esbraveja e ferve como as caldeiras do inferno, e sacode pelos ares os mais possantes navios…?

— Eu lhe conto como foi. Outro dia eu vinha abeirando essas praias no meu barquinho. O vento cochilava, e mal fazia bater a vela esbambeada ao comprido do mastro; o sol ardia, e fazia um calor de abafar. Eu, fiado na calmaria, larguei o leme, deixei o barco ir à toa e também cochilei, e não sei como ferrei no sono alto dia. Enquanto eu dormia, uma rajada de sudoeste, um furioso pampeiro, agarra-me da vela e atira comigo e o meu barco por esses mares de Deus afora. Íamos