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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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Flaccus. O pae de Gonçalo, ora Regenerador, ora Historico, vivia em Lisboa no Hotel Universal, gastando as solas pelas escadarias do Banco Hypothecario e pelo lagedo da Arcada, até que um Ministro do Reino, cuja concubina, corista de S. Carlos, elle fascinára, o nomeou, (para o afastar da Capital) Governador Civil de Oliveira. Gonçalo, esse, era bacharel formado com um R no terceiro anno.

E n’esse anno justamente se estreou nas Lettras Gonçalo Mendes Ramires. Um seu companheiro de casa, José Lucio Castanheiro, algarvio muito magro, muito macilento, de enormes oculos azues, a quem Simão Craveiro chamava o «Castanheiro Patriotinheiro», fundára um Semanario, a Patria — «com o alevantado intento (affirmava sonoramente o Prospecto) de despertar, não só na mocidade Academica, mas em todo o paiz, do cabo Silleiro ao cabo de Santa Maria, o amor tão arrefecido das bellezas, das grandezas e das glorias de Portugal!» Devorado por essa idéa, «a sua Idéa», sentindo n’ella uma carreira, quasi uma missão, Castanheiro incessantemente, com ardor teimoso de Apostolo, clamava pelos botequins da Sophia, pelos claustros da Universidade, pelos quartos dos amigos entre a fumaça dos cigarros, — «a necessidade, caramba, de reatar a tradição! de desatulhar, caramba, Portugal da alluvião do estrangeirismo!» — Como o Semanario appareceu