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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Gonçalo escutára, n’um silencio risonho e superior, enrolando laboriosamente um cigarro com o tabaco do Barrôlo:

— Vocês não comprehendem... Vocês não conhecem a organisação de Portugal. Perguntem ahi ao Gouveia... Portugal é uma fazenda, uma bella fazenda, possuida por uma parceria. Como vocês sabem ha parcerias commerciaes e parcerias ruraes. Esta de Lisboa é uma parceria politica, que governa a herdade chamada Portugal... Nós os Portuguezes pertencemos todos a duas classes: uns cinco a seis milhões que trabalham na fazenda, ou vivem n’ella a olhar, como o Barrôlo, e que pagam; e uns trinta sujeitos em cima, em Lisboa, que formam a parceria, que recebem e que governam. Ora eu, por gosto, por necessidade, por habito de familia, desejo mandar na fazenda. Mas, para entrar na parceria politica, o cidadão portuguez precisa uma habilitação — ser deputado. Exactamente como, quando pretende entrar na Magistratura, necessita uma habilitação — ser bacharel. Por isso procuro começar como deputado para acabar como parceiro e governar... Não é verdade, João Gouveia?

O Administrador voltára á bandeja das sangrias, de que saboreava outro copo, agora lentamente, aos goles:

— Sim, com effeito, essa é a carreira... Candidato,