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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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montez, n’uma ruidosa fogueira, deante das barbacans da Honra. Ainda em dias do bisavô Ignacio apodreceria n’uma masmorra. E o Casco não podia escapar sem castigo. A impunidade só lhe incharia a audacia: e assomado, rancoroso, n’outro encontro, sem mais fallas, desfechava a caçadeira. Oh! não lhe desejava um mal duravel, coitado, com dois filhos pequeninos — um que mamava. Mas que o arrastassem á Administração, algemado, entre dois cabos de policia — e que na triste saleta, d’onde se avistam as grades da cadeia, apanhasse uma reprehensão tremenda do Gouveia, do Gouveia muito secco, muito esticado na sobrecasaca negra... Assim se devia resguardar, por meios tortuosos — pois que não era deputado, e que, com o seu talento, o seu nome, essa espantosa linhagem d’avós que edificára o Reino, carecia o prestigio d’um Sanches Lucena, o precioso prestigio que suspende no ar os varapáus atrevidos!

Apenas findou o café, mandou pelo Bento avisar os dous moços da horta, o Ricardo e o outro de queixo de cavallo, que o esperassem no pateo, armados. Porque na Torre ainda sobrevivia uma «Sala d’armas» — cacifro tenebroso, junto ao Archivo, onde se amontoavam peças aboladas d’armaduras, um lorigão de malha, um broquel mourisco, alabardas, espadões, polvarinhos, bacamartes de 1820, e entre esta poeirenta ferralhagem negra tres espingardas limpas