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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

para o outro cavalheiro, que repuxava na mão enorme, com um esforço inchado, uma luva preta apertada e curta.

— Santo Deus!... Quando?

— Esta madrugada. De repente. «Angina pectoris,» não sei quê no coração... De repente, na cama.

E ambos se consideraram, em silencio, no espanto renovado d’aquella morte que impressionava Villa-Clara. Por fim Gonçalo:

— E eu ainda ha bocado, na Torre, a fallar d’elle! E, coitado, como sempre, com pouca admiração...

— E eu! exclamou o Gouveia. Eu, que ainda hontem lhe escrevi!... E uma carta comprida, por causa d’um empenho do Manoel Duarte... Foi o cadaver que recebeu a carta.

— Boa piada! rosnou o sujeito obeso, que se debatia ferrenhamente contra a luva. O cadaver recebeu a carta... Boa piada!

O Fidalgo torcia o bigode, pensativo:

— Ora, ora... E que edade tinha elle?

O Gouveia sempre o imaginára um completo velho, de setenta invernos. Pois não! apenas sessenta, em Dezembro. Mas consumido, arrasado. Casára tarde, com fêmea forte...

— E ahi temos a bella D. Anna, viuva aos vinte