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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

em campo escarlate, ficára no Archivo da Casa como um trecho da Chronica heroica dos Ramires. E muitas vezes em pequeno Goncalo recitára, ensinados pela mamã, os primeiros versos do Poema, de tão harmoniosa melancolia:

Na pallidez da tarde, entre a folhagem
Que o outomno amarellece...

Era com esse sombrio feito do seu vago avoengo que Gonçalo Mendes Ramires decidira em Coimbra, quando os camaradas da Patriae das ceias o acclamavam «o nosso Walter Scott», compôr um Romance moderno, d’um realismo épico, em dous robustos volumes, formando um estudo ricamente colorido da Meia-Edade Portugueza... E agora lhe servia, e com deliciosa facilidade, para essa Novella curta e sobria, de trinta paginas, que convinha aos Annaes.

No seu quarto do Bragança abrio a varanda. E debruçado, acabando o charuto, na dormente suavidade da noite de Maio, ante a magestade silenciosa do rio e da lua, pensava regaladamente que nem teria a canceira d’esmiuçar as chronicas e os folios massudos... Com effeito! toda a reconstruccão Historica a realisára, e solidamente, com um saber destro, o tio Duarte. O Paço acastellado de Santa Ireneia, com as fundas carcovas, a torre albarran,