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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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a alcaçova, a masmorra, o pharol e o balsão: o velho Tructesindo, enorme, e os seus flocos de cabellos e barbas ancestraes derramados sobre a loriga de malha; os servos mouriscos, de surrões de couro, cavando os regueiros da horta; os oblatos resmungando á lareira as Vidas dos Santos; os pagens jogando no campo do tavolado — tudo resurgia, com veridico realce, no Poemeto do tio Duarte! Ainda recordava mesmo certos lances: o truão açoutado; o festim e os uchões que arrombavam as cubas de cerveja; a jornada de Violante Ramires para o Mosteiro de Lorvão...

Junto à fonte mourisca, entre os ulmeiros,
A cavalgada pára...

O enrêdo todo com a sua paixão de grandeza barbara, os recontros bravios em que se saciam a punhal os rancores de raça, o heroico fallar despedido de labios de ferro — lá estavam nos versos do titi, sonoros e bem balançados...

Monge, escuta! O solar de D. Ramires
Por si, e pedra a pedra se aluira,
Se jámais um bastardo lhe pisasse,
Com sapato aviltado, as lages puras!