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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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o terraço, desappareceu entre os teixos altos do jardim.

Mas á tarde, quando o Fidalgo occupou o seu logar na mesa oval, junto da prima Maria Mendonça — logo notou, entre duas compoteiras, uma travessa d’ovos queimados. Apesar de jantar tão intimo serviam, com a louça da China, os famosos talheres dourados da baixella do tio Melchior. E duas jarras de Saxe transbordavam de cravos brancos e amarellos, côres heraldicas dos Ramires.

D. Maria, que não encontrára o querido primo desde os annos de Gracinha, murmurou com um sorriso, uma grave cortezia, n’aquelle cerimonioso silencio em que se desdobravam os guardanapos:

— Ainda lhe não dei os parabens, primo Gonçalo...

Elle acudiu, mechendo nervosamente nos copos:

— Chut! prima, chut! Hoje aqui, já está decidido, não se allude sequer a Politica... Está muito calor para Politica.

Ella suspirou de leve, como desfallecida: Ai, o calor... Que horrivel calor! Desde que entrára nos Cunhaes com aquelle vestido preto que «era o seu pallio rico» — ainda não cessára de invejar a frescura do vestido branco de Gracinha...

— Que bem que lhe fica! Está hoje linda!

Era um vestido liso de crepon branco, que