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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Na realidade só lhe restava transpôr as formas fluidas do Romantismo de1846 para a sua prosa tersa e mascula (como confessava o Castanheiro), de optima côr archaica, lembrando o Bobo. E era um plagio? Não! A quem, com mais seguro direito do que a elle, Ramires, pertencia a memoria dos Ramires historicos? A resurreição do velho Portugal, tão bella no Castello de Santa Ireneia, não era obra individual do tio Duarte — mas dos Herculanos, dos Rebellos, das Academias, da erudição esparsa. E, de resto, quem conhecia hoje esse Poemeto, e mesmo o Bardo, delgado semanario que perpassára, durante cinco mezes, ha cincoenta annos, n’uma villa de Provincia?...! Não hesitou mais, seduzido. E em quanto se despia, depois de beber aos goles um copo d’agua com bicarbonato de soda, já martellava a primeira linha do conto, á maneira lapidaria da Salammbô: — «Era nos Paços de Santa Ireneia, por uma noite d’inverno, na sala alta da Alcaçova...»

Ao outro dia, procurou José Lucio Castanheiro na repartição dos Proprios Nacionaes, á pressa, — por que, depois d’uma conferencia no Banco Hypothecario, ainda promettera acompanhar as primas Chellas a uma Exposição de Bordados na livraria Gomes. E annunciou ao Patriota que, positivamente, lhe assegurava para o primeiro numero dos Annaesa Novella,