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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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E gracejou, affavelmente. Oh, antepassados... Simples punhados de cinsa vã! — Pois não era verdade, Snr. aD. Anna?... Realmente! quem conceberia que a prima Maria, tão viva, tão sociavel, tão engraçada, descendesse d’uma poeira tristonha guardada dentro d’uma pia de pedra? Não! não se podia ligar tanto sera tanto não-ser... — E como D. Anna sorria, n’uma vaga concordancia, encostando as duas mãos fortes e muito apertadas na pellica negra ao alto cabo d’aljofar da sombrinha, elle atalhou com interesse:

— V. Ex. aestá talvez cançada, Snr. aD. Anna?

— Não, não estou cançada... Ainda vamos mesmo entrar na capella, um bocadinho... Eu nunca me canço.

E pareceu a Gonçalo que a voz da formosa creatura não rolava do papo, tão grossa e gorda — mas que se afinára, adoçada e velada pelo luto d’escomilha e lã, como esses grossos e rolantes rumores que a noite e o arvoredo adelgaçam. Mas D. Maria confessou o seu immenso cançasso! Nada a esfalfava como visitar curiosidades... E além d’isso a emoção, a ideia de heroes tão antigos!

— Se nos sentassemos n’aquelle banco, hein? É muito cedo para recolhermos, não é verdade, Annica? E está tão agradavel n’este socego, n’esta frescura...