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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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Depois n’essa noute, recolhendo á Torre, Gonçalo encontrou uma carta que o perturbou. Era de Maria de Mendonça, n’um papel perfumado, com o mesmo perfume que tão docemente espalhava D. Anna, pelo adro de Santa Maria de Craquêde: — «Só esta manhã soubemos o grande perigo que passou, e ficamos ambasmuito commovidas. Mas ao mesmo tempo eu (e não só eu) muito vaidosa da magnifica coragem do primo. É d’um verdadeiro Ramires! Eu não vou ahi abraçal-o (com risco de me comprometter e fazer invejas) por que um dos meus pequenos, o Neco, anda muito constipado. Felizmente não é cousa de cuidado... Mas aqui todos, até os pequenos, anciamos por vêr o heroe, e não creio que houvesse nada d’extraordinario, nem d’um ladonem d’outro, em que o primo por aqui apparecesse além d’amanhã (quinta feira) pelas tres horas. Davamos um passeio na quinta, e até se merendava, á boa e velha moda dos nossos avós. Está dito? Muitos comprimentos, muitos, da Annica, e o primo creia-me, etc.» — Gonçalo sorriu, pensativamente, considerando a carta, recebendo o aroma. Nunca a prima Maria lhe empurrára, tão claramente, a D. Anna para os braços... E como D. Anna se deixava empurrar, prompta, e d’olhos cerrados... Ah, se fosse somente para a alcova! Mas ai! era tambem para a Egreja. E de novo sentia aquelle vozeirão do