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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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para sobre o dorso d’uma possante mula de carga, o estende entre dous esguios caixotes de virotões, como rez apanhada ao recolher da montaria. E servos da carriagem ficam guardando o Cavalleiro soberbo, o Claro-Solque allumiava a casa de Bayão, agora entaipado entre dois caixotes de pau, com cordas nos pés, e cordas nas mãos, e n’ellas espetado um triste ramo de cardo — emblema da sua traição.

No emtanto os seus quinze Cavalleiros juncavam o chão, esmagados sob o furioso cerco de lanças que os investira — uns hirtos, como adormecidos, dentro das negras armaduras, outros torcidos, desfeitos, com as carnes retalhadas, pendendo horrendamente entre malhas rotas dos lorigaes. Os escudeiros, colhidos, empurrados a pontoada de chuço para a boca d’uma barroca, sem resgate ou mercê, como alcateia immunda de roubadores de gado, acabaram, decepados a macheta pelos barbudos estafeiros leonezes. Todo o valle cheirava a sangue como um pateo de magarefes. Para reconhecer os companheiros do Bastardo, uma turma de cavalleiros desafivelava os gorjaes, as viseiras, arrancando furtivamente as medalhas de prata, os bentos, saquinhos de reliquias, que todos traziam como bem-tementes. N’uma face, de fina barba negra, que uma espuma sangrenta manchava, Mendo de Briteiros reconheceu seu primo Sueiro