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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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oito mil morabitinos d’oiro? E a gratidão da irmã fôra o Leonez passando a raia e logo cahidos os castellos formosos d’Ulgoso, de Contrasta, d’Urros e de Lanhosello! O mais velho da casa dos Souzas, Gonçalo Mendes, não se encontrára ao lado dos cavalleiros da Cruz na jornada das Navas, mas lá andava em recado das Infantas, como moiro, talando terra portugueza desde Aguiar até Miranda! E já pelos cerros d’Além-Douro apparecera o pendão renegado das treze arruellas — e por traz, farejando, a alcateia dos Castros! Carregada ameaça, e de armas christãs, opprimindo o Reino — quando ainda Moabitas e Agarenos corriam á redea solta pelos campos do Sul!... E o honrado Senhor de Santa Ireneia, que tão rijamente ajudára a fazer o Reino, não o deveria decerto desfazer arrancando d’elle os pedaços melhores para monges e para donas rebeldes! — Assim, com arremessados passos, exclamára Mendo Paes, tão acalorado do esforço e da emoção, que duas vezes encheu de vinho uma conca de pau e d’um trago a despejou. Depois, limpando a bocca ás costas da mão tremula:

— Ide por certo a Monte-mór, senhor Tructesindo Ramires! Mas em recado de paz e boa avença, persuadir vossa senhora D. Sancha e as senhoras Infantas que voltem honradamente a quem hoje contam por seu pae e seu Rei!