Página:A lavoura e a guerra.pdf/10

Wikisource, a biblioteca livre
18

da nossa produção, provocando-lhes o funcionamento de modo conveniente e eficaz.

O amor do trabalho, diz Ribot, é na realidade uma tendencia adquirida e, como tal instavel e precaria, em comparação com as tendencias naturais, e o trabalho forçado é ao mesmo tempo um efeito e uma causa da civilização, da qual tem sido um dos principais fatores a luta contra a tendencia ao menor esforço Guilherme Ferrero, no seu livro sobre as Leis psicolojicas do simbolismo, referido pelo professor T. Ribot, diz ainda :—«A civilização conseguiu fazer contrair o hábito do trabalho muscular á maioria dos homens e está nisso uma das suas mais brilhantes conquistas; mas quanto ela custou caro ! Foi necessario o cadafalso, a miseria, a escravidão, para habituar o homem a conduzir esse fardo, e ainda hoje a vitoria está lonje de ser completa. Ha classes sociais, inteiras, que tendem a furtar-se á lei do trabalho, tais como os criminosos, os vagabundos, as prostitutas. O gôsto da ociosidade é uma carateristica de todas as categorias de dejenerescencia, porque, sendo o amor ao trabalho uma das formações mais recentes da evolução psíquica, é tambem uma das primeiras a desaparecer, nos casos patolojicos”».

Ora, se o amor ao trabalho, que nos falta, é uma conquista alcançada pelo uso e suscetivel de perder-se pelo desuso, devemos provocá-lo e mantê-lo nas mólas do organismo nacional onde a inercia se mostra. E, como essa conquista é da civilização, e pressupõe o progrésso mental ou antes lhe é paralela, o modus operandi, que lojicamente se impõe, é o da disciplina e da instrução da massa viva — preguiçosa, vagabunda e ignorante, na qual se pretenda consegui-la. Não vou por certo ao encontro da judiciosa censura, formulada por um dos maiores psicólogos modernos—Gustavo Le Bon, quando afirma que a instrução se tornou a panacéa das democracias. Pretender a instrução e a obrigatoriedade do trabalho, como fatores de ação modificadora da nossa vida económica, é atendersensatamente ás nossas especialíssimas condições, que não podemos deixar de en