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protetoras. A sociedade tem, portanto, a obrigação de compelir ao cumprimento do seu dever todo o individuo válido que não trabalha, que quer vivr alheia e que atúa, por conseguinte, e se fôra uma peça perturbadora do mecanismo económico, Resta agora saber : qual deve ser a penalidade ? A penalidade, para ser fecunda, deve estar em perfeita relação com a natureza do delito cometido e consistir verdadeiramente na reparação do mal causado, Assim, pois, traduzindo-se o delito cometido por um individuo que não trabalha no desfalque da fortuna pública, e num atentado contra o seu proprio interêsse, segue-se que, neste caso, a pena imposta deve ser obrigá-lo a trabalhar para, por esse meio, reparar todo o dano causado a si proprio e á sociedade. Mas dirse-á: obrigando-se o individuo a trabalhar,atenta-se contra a sua liberdade, e isto, em ultima analize, é um prolongamento da escravidão. Esta objeção é apenas um sofisma, facil de ser apanhado em flagrante. Abstraindo do lado sentimental que é, sem dúvida, muito respeitavel, na escravidão o que choca os principios económicos, e os preceitos da solidariedade e mutualidade sociais, é existir um trabalhador sem salario, haver um trabalho que não tem remuneração e, portanto, um membro da comunhão que entesoura o capital, enquanto que o outro é condenado ao dispendio das suas enerjias, sem compensação de especie alguma. Como regra geral, a sociedade não pode, por certo, tutelar todo o mundo, e muito menos impôr este ou aquele modo de atividade, mas, quando o individuo não se mostra capaz de, por si só, encaminhar o seu proprio esforço e dirijir convenientemente o seu prestimo, cumpre á sociedade guiá-lo, como o faz para com os loucos, os mentecaptos, os ebrios, os menores desprotejidos, ou para com todas as outras classes de individuos que possam cometer qualquer transgressão dos preceitos sociais. A pena de quem transgride o principio da coparticipação do trabalho, a que todos somos obrigados, é trabalhar: mas, como se não peste exijir de quem quer que seja trabalho gratuito, segue-se que o individuo, ainda mesmo que trabalhe em virtude da punição que lhe é imposta, deve vencer um