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descure a cultura dos campos, não bastará pela parte que nos tóca.

E' precizo mais. O trabalho agricola, no Maranhão, não está organizado.E' rotineiro, pouco produtivo, portanto, e falece-lhe o braço educado, sadio e convenitemente ativo, que o intensifique, como o ha-de exijir cada vez mais a nossa situação económica, em face da guerra. E' a voz unanime de todos os agricultores que o afirma, e, como prova oportunissima do assêrto, reproduzimos uns topicos do valioso artigo que, sobre a materia, publicou o operoso agrônomo patrício William Wilson Coelho de Sousa. Acha-se hoje este dedicado profissional á testa de uma importante empreza de cultura algodoeira, no municipio de Guimarães, e poderá falar dos males cuja ação embaraçante tem duramente provado.

«Neste segundo artigo da série que iniciámos, escreve o sr. Coelho de Sousa, vimos ocupar-nos rapidamente de uma das prementes necessidades da agricultura maranhense, qual seja—o braço. Para aqueles que estejam afastados dos labores agricolas, este assunto é de somenos importancia, ou, pelo menos, não experimentando de perto a falta que faz o braço á agricultura, o problema se lhes torna indiferente. Entretanto, reputâmo-lo magno e de tanta relevancia que avançâmos a dizer, sem receio de contestação, que, se os poderes publicos nada fizerem para resolver a carencia de braços, a lavoura maranhense não passará da miseria em que se arrasta. Não pode, atualmente, existir a grande lavoura e a classe dos grandes lavradores, no Maranhão, meus caros leitores, porque nesta terra o preto e o cabôclo são hoje mais livres do que aquele de vós que se julga perfeitamente independente. Na rejião litoranea, que habitâmos, a abundancia do maldito peixe e da malfadada cultura de mandióca, para a produção de farinha, constituem os maiores obstaculos ao progresso da lavoura, nestas bandas do Atlántico. Limita esta gente toda a sua atividade a farinhar e pescar; com estas duas unicas preocupações, entretem o tempo que lhe sobra da ociosidade, pois tanto se lhe dá de amanhecer o dia sem ter que comer ou mesmo que este passe e mais outro