Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/140

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jubilos, scintillava mesmo defronte do leito de Magdalena.

—­Vês?—­disse Christina.

—­Muito pouco. É esse o teu sol? Como vae alto! É pena que não alumie melhor do que está lamparina.

Christina sentia redobrar com estás delongas a sua impaciencia, quasi de creança.

—­Anda, Lena, anda. Assim não chegamos a vêr do alto da ermida o romper do sol.

—­Pois queres vêr isso de lá?! Que crueldade! Em uma manhã de dezembro!

—­Está tão bonita, que parece de primavera.

—­Triste lembrança a nossa hontem de combinarmos este passeio. Isto é lá coisa que se faça? Vale por uma viagem aos pólos.

Christina não fazia senão ir do leito de Magdalena para a janella e voltar da janella para o leito, em virtude d’aquella irresistivel necessidade de movimento, embora sem ordem nem fim, que experimentamos quando nos deixamos apossar da impaciencia.

—­Não fazes ideia como está bonito cá fóra; n’alguns pontos ainda se vê neve.

—­Oh, que agradavel e tentadora belleza! Ainda se vê neve!... Parece-me que já estou gelada... Com essa palavra tiraste-me o alento que ia ganhando. Vês?

—­Mas não está frio; até parece que aqueceu o tempo. Então, Lena!... Elles... não tardam por ahi. Cuidas que te vae custar muito, e é um engaño; aquí estou eu, que não sinto frio nenhum.

—­Ora, mas tu estás em condições muito particulares. Quem tem uma fogueira no coração, não precisa...

—­Ahi principias com as tuas coisas!

—­Eu não sei; o que é certo é que esse teu enthusiasmo pelos passeios matutinos não é natural. Quantas vezes recusaste acompanhar-me quando