Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/148

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lanteios com Magdalena; parava a cada momento n’aquelles pontos do caminho, que lhe pareciam maïs difficeis de vencer, para lhe offerecer a mão a ella, sempre a ella, a quem dirigia tambem todas as reflexões que o aspecto da paizagem lhe suscitava e nunca á esquecida Christina que, n’esses momentos, quasi achava a manhã desagradavel e o sitio feio e sombrío.

A morgadinha respondia sempre em curtas phrases a Henrique e recusava insistentemente o auxilio, que elle lhe offerecia.

—­Estou a suspeitar que esses offerecimentos do primo são maïs devidos á necessidade, que sente, de quem o auxilie, do que ao empenho de nos auxiliar—­disse ella sorrindo.—­A falar verdade, para quem tem passado a vida a trilhar os passeios do Chiado, que admira? Eu fui creada n’isto. Tenho um pouco de alpestre. Adeante.

E de uma occasião, em que estava perto d’elle, disse-lhe a meia voz:

—­Pode ser que Christina careça maïs do seu braço, primo. Ainda não teve a lembrança de lh’o offerecer.

Henrique só então deu por esse esquecimento; apressou-se a remedial-o, offerecendo a Christina tambem o braço, que está recusou, córando.

—­Então por que recusas?—­perguntou-lhe a morgadinha, em voz baixa.

—­Porque não quero abusar da delicadeza d’elle, nem da tua.

A morgadinha abanou a cabeça em ar de reprehensão, fitando-a, mas não lhe disse nada.

Pouco a pouco ia sendo maïs completo o silencio em torno d’elles. Já tinham passado acima dos rumores do valle, que não subiam a maïs de meia encosta. Chegaram emfim ao cimo do monte; tudo annunciava o proximo apparecimento do sol.

—­Chegamos a tempo!—­exclamou Magdalena que, deitando a correr, fôra a primeira que attin-