Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/185

Wikisource, a biblioteca livre
185

— O peor é se isto não espalha e a Christina muda de tenção.

— O vento é do mar, menina; isto são aguaceiros — notou Brizida, como para desvanecer aquelle receio.

— Pois sabe que Christina vem?

— Eu sei tudo. Ora sente-se ao fogão, que deve vir muito frio. Accendi o lume, porque estava aqui dentro um ar humido e mofento, muito pouco hospitaleiro. — Brizida, olhe que se não percebam lá fóra as luzes, que podem amedrontar Christina. E feche a porta da sala. Abra o côro da capella e prepare chá para quatro. Aqui mesmo, Brizida, aqui mesmo, porque a cozinha está pouco habitavel.

Emquanto Brizida cumpria as ordens que a morgadinha lhe dava, esta, chegando uma cadeira para o fogão, sentou-se defronte de Henrique de Souzellas.

— Agora conversemos amigavelmente, primo Henrique. E antes de mais nada, responda-me a uma pergunta! O que o trouxe aqui?

— Pois não diz que sabe tudo?

— Até certo ponto, entendamo-nos. Não vão tão longe as minhas faculdades que cheguem a devassar intenções, que por ventura á propria consciencia de quem as fórma, repugne acceitar.

— Não é esse o meu caso; as minhas intenções são reconhecidas e approvadas pela minha consciencia. Vim para assistir ao espectaculo commovente de um anjo que ora por mim. É um espectaculo a que ainda não assistira, prima. Admira-se da minha curiosidade?

— Acho-a natural e até... louvavel. O ponto está que a sua convalescença esteja bastante segura já. Porque o primo Henrique convalesceu ha dias de duas doenças.

— De duas?

— Sim; e a mais rebelde não foi a de que o cirurgião o tratou.