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didas por que pugnára nos seus primeiros discursos, e que tantas malquerenças lhe acarretaram então.

Já atraz dissémos, que o conselheiro era actualmente um espirito pouco apaixonado do ideal, respirava a atmosphera de desillusão e de scepticismo, em que nas grandes cidades se vive. Era um perfeito homem de côrte; tratava cordialmente os seus adversarios politicos, pedindo d’elles mercês e empregos para afilhados; fulminava-os ás vezes da tribuna e depois apertava-lhes a mão nos corredores das cámaras e nas praças. Se o julgava vantajoso, pronunciava ainda uma d’aquellas phrases sonoras, uma d’aquellas sympathicas divisas de politica avançada, que no principio da sua carreira adoptára com sinceridade; mas não tinha já aos principios o amor preciso para cair, abraçado n’elles, dos degraus do poder, se algum dia os chegasse a subir.

Por isso os soldados rasos do seu partido, os politicos em abstracto, unicos para quem a politica é sempre ideal e logica, o taxavam de frouxo e tibio; e de gazeta na mão havia muito que lhe dictavam, do obscuro canto do paiz em que viviam, a estrada direita, de que elle, porém, a cada passo se desviava.

Apesar d’isso, o partido conservador e o reaccionario, julgando-o por os seus primeiros discursos, continuavam, de boa où de má fé, a acoimal-o de impío, de republicano e de pedreiro livre.

O brazileiro entrou em dissertação a respeito de todas as medidas politicas a que alludira.

Segundo o costume, ninguem o entendeu.

Ia elle no maïs enredado da sua meada oratoria, quando o som de um tropear de cavallos o interrompeu. Mestre Bento, que fôra espreitar á porta, voltou-se, exclamando:

—­Elle ahi vem! ahi vem o conselheiro!

Todos se levantaram pressurosos para correrem á porta. O que maïs de má vontade o fez foi ainda assim o brazileiro.