Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/248

Wikisource, a biblioteca livre
248

Dirigiu-se á esquina que d’alli avistava; dobrou-a, mas nada viu; as ruas eram solitarias, e uma só casa terrea que havia ao lado de um quintal estava discretamente fechada e silenciosa.

Desistindo de proseguir na infructuosa pesquiza, Henrique voltou para a porta.

— Esperemos aqui por esta donzella destemida que assim anda de noite a correr aventuras. Ha de ser curioso observar como ella fica, quando me encontrar por guarda portão. Veremos se ainda depois d’isto durarão aquelles ares de soberania, com que me trata. Um primo timido e modesto!...

E, sorrindo á lembrança da scena que se preparava, Henrique fechou a porta por dentro, e accendendo um charuto, poz-se a passeiar, aguardando o regresso da morgadinha.

Para não perdermos muito tempo á espera tambem, aproveital-o-hemos a inquirir de coisas e de pessoas, cujo conhecimento é util á continuação da nossa historia.

A pouca distancia do extremo da quinta do Mosteiro e n’um sitio a que a abundancia de vegetação e a suavidade de perspectiva davam o mais pittoresco aspecto, estava a casa e o quintal do herbanario, casa e quintal já condemnados pelos lapis e tira-linhas dos engenheiros e offerecidos em sacrificio aos melhoramentos municipaes e concelhios.

Acharia justificado o quasi terror, com que Magdalena e Angelo escutaram a nova d’esta expropriação, quem conhecesse a vivenda rustica do herbanario e soubesse do amor que elle votava a cada objecto d’ella, assim como da vida que, havia tantos annos, alli vivia escondido e obscuro.

Para o quintal, que a abundancia das arvores de espinho fazia sempre verde, abriam-se as janellas da pequena e humilde saleta, onde o herbanario se entregava ás suas leituras e lucubrações scientificas. Logo ao pé da porta se estendiam o jardim, em parte de recreio, pelas flores que o adornavam, em