Aqui agitava os braços como azas de moinhos.
Será cada lança um raio!
E, dizendo isto, tinha nos olhos o fulgurar do relampago.
Cada espada um corisco,
E o braço, armado do alfange, baixava com a rapidez do simile.
Cada soldado um trovão,
E trovejava-lhe a voz.
Cada golpe um basilisco!
E na posição e gesto em que ficava, não era menos terrivel e pavoroso do que a fera da comparação.
Uma tempestade de applausos rompeu de todos os lados; só as mulheres e as creanças ficaram silenciosas e immoveis, porque lhes parecia um peccado applaudirem Herodes. E não sei se, o que fizera menos escrupulosa n’este ponto a parte masculina, fôra o exemplo partido das janellas do Mosteiro; porque é certo que em geral os tyrannos no palco são admirados, mas raras vezes applaudidos.
Herodes, depois de agradecer os applausos publicos, senta-se e segue o auto.
Dariamos de bom grado na integra tão importante peça dramatica ou pelo menos circumstanciada noticia d’ella, se não receiassemos o recheio excessivo para esta ordem de alimentos litterarios, que se querem leves. Não podemos comtudo resignar-nos a passal-a por alto inteiramente.
Além do Herodes, são figuras do auto: o caixeiro do dito — assim se lhe chama pelo menos no folheto, o que dá a entender que Herodes era homem de