Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/386

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— Muito bons dias, sr. Augusto, — disse D. Victoria affavelmente — então são horas de me vir aturar a pequenada? Não lhe invejo a vida. Sabe? De manhã até á noite a aturar creanças! Deus me livre!

— Agora já não succede assim, minha senhora. Estou dispensado de parte das minhas obrigações — disse Augusto, depois de cortejar as senhoras e Henrique.

— Como?

— Pois v. ex.a não sabe que já foi nomeado outro professor para o meu logar?

— Que me diz?

Em todas as pessoas presentes produziu sensação esta noticia.

D. Victoria e a morgadinha fixaram em Augusto um olhar interrogador. O gesto de Henrique tinha uma expressão particular.

— Recebi ha dias a participação official — continuou placidamente Augusto.

— Mas — proseguiu D. Victoria — o mano tinha aqui dito que o seu despacho estava seguro, que, além de ser de toda a justiça, elle o tomaria a seu cuidado. E então agora... Olhem, sabem que mais? eu cada vez me entendo menos com esta gente. Isto de politicos...

Magdalena inclinou a cabeça, suspirando.

— Bem vê v. ex.a — disse Augusto, com leve tom de amargura — que ás vezes ha grandes interesses sociaes dependentes do despacho de um modesto professor de instrucção primaria da aldeia, e portanto não se deve extranhar que um homem politico attendesse a elles antes de tudo.

Magdalena que, ao ouvir estas palavras, levantára os olhos, encontrou os de Henrique, que parecia procurarem os d’ella com intenção.

A morgadinha desviou os seus com impaciencia e desgôsto, que se lhe manifestou na contracção da fronte.