Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/404

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—­E ainda agora se lembra d’elle?—­exclamou Henrique, ao ouvil-o—­e inda hesita?! O senhor é de uma boa fé!... Temos o fio!

—­Mas como pôde elle...?

—­Isso depois; o maïs virá a seu tempo. Agora trata-se de vigiar esse senhor... E agora me lembra; elle é um dos oradores do club do Canada... Sondarei esse antro tenebroso... Eu já devia suppor que andava aquí miseria politica... Estou a achar razão áquella adoravel Magdalena... Perdão... inda não perdi o habito de a adorar... Tambem, desde que o consiga, serei seu amigo sem restricções. Até lá, porém, não será isso motivo para de corpo e alma me não dedicar á sua causa... Eu posso ter todos os defeitos, menos o de collaborar de boamente n’uma velhacaria; e, fôsse o meu maior inimigo que eu visse victima d’ella, creia que procuraria desfazel-a.

—­Agradeço-lhe essas palavras, que acredito são sinceras; não posso, porém, acceitar a intervenção que me offerece. Eu sou que devo justificar-me. Está empenhada n’isso a minha dignidade.

—­Como queira. Em todo o caso espero que uma má prevenção o não constranja a não recorrer lealmente a mim, se o meu auxilio lhe puder servir. Agora peço-lhe perdão, se alguma vez o offendi de maïs; mas vamos lá, o senhor tambem não está de todo isento de culpa... E quanto ao pretexto... adiado maïs uma vez, não lhe parece?

Augusto não podia fechar-se áquelle caracter, que se lhe estava mostrando agora sob uma face nova e sympathica; por isso respondeu, sorrindo:

—­Adiado para sempre.

E estenderam as mãos um ao outro, apertando-as já sem o menor resentimento.

Eram duas almas generosas, que acabavam de se comprehender.

—­É notavel;—­pensava comsigo Henrique—­estou sympathisando á ultima hora com este rapaz!