que lhe ha de lembrar toda a vida! Não, que isto aqui não é Lisboa! Eu não admitto que se olhe para mim com falta de respeito... Já disse! Eu não gosto de repetir as coisas... Tenho dicto! O senhor não ouve?
Henrique continuou a fumar, sem desviar os olhos do morgado.
— Ó senhor lá... Faz favor de não olhar para mim d’essa maneira?
Henrique exhalou uma baforada de fumo e sorriu.
— Vossê ri-se!... Elle riu-se, ó Cosme? Pois elle riu-se de mim? Espera!
E o sr. Joãozinho executou um movimento para levantar-se.
O Cosme imitou-o, e os camaradas puzeram-se a postos.
Susteve-os o brazileiro e outros igualmente pacificos.
— Então! então! isso o que é?
— Quero perguntar áquelle senhor de que é que se ri — bradava o morgado, furioso.
— Para isso não se incommode — respondeu Henrique — eu mesmo d’aqui lhe respondo. Rio-me da ridicula figura que está fazendo.
— Ah!... ouvem-n’o? Larguem-me, deixem-me, deixem-me... Ó Cosme!...
E o morgado barafustava entre os braços debeis que o retinham. No povo principiou a subir a maré das murmurações contra Henrique.
— O senhor vem para aqui armar desordens?
— É para espiar?
— Depois queixe-se...
— Não se metta com a gente.
O morgado bracejando, espumando, e largando por pouco a jaqueta nas mãos que o retinham, conseguiu, graças aos seus musculos robustos, sacudir de si todos os obstaculos, e correu para Henrique, que por prevenção se collocou a pé.