—Para traz!—exclamou outra vez Magdalena, já trémula de exaltação.
O cura, enfiado e convulso, correu para o lado d’ella.
O sr. Joãozinho sorriu.
—Isso é que é mandar! Socegue que não fazemos mal a sua mãe; só lhe queremos tirar essas pedras de cima d’ella. Devem-lhe pesar!—e soltou, ao dizer isto, uma gargalhada, que echoou no grupo que o rodeava.
—Abaixo, abaixo!—repetiram ainda as vozes, e o morgado preparou-se para cumprir o feito. Magdalena sentiu que a razão se lhe perturbava. Era-lhe preciso defender de uma profanação as cinzas de sua mãe, ainda que fôsse á custa da propria vida.
Ia para supplicar, para ajoelhar deante d’aquelles homens; já as lágrimas lhe brilhavam nos olhos, e os labios principiavam a murmurar a palavra «piedade».
O morgado viu-a assim, e como homem em quem as lágrimas de mulher ainda achavam caminho para chegar ao coração, hesitou, resmungando:
—Mau! se temos chôro, nada feito.
Mas já não podia hesitar; a onda impellia-o, os gritos redobravam, e outros braços se agitavam ao seu lado, preparando-se para a obra de profanação.
O sr. Joãozinho cedeu outra vez e levantou o machado.
Imitaram-n’o muitos.
Magdalena então correu a abraçar-se ao tumulo da mãe para o protéger da violencia.
Antes de o abater haviam de a férir a ella.
Os machados, que já se brandiam no ar, suspenderam-se. Alguns baixaram-n’os, como arrependidos.
O morgado formulou n’uma jura a impressão que lhe estava causando a scena.
Desviando os olhos, disse, com modo desabrido:
—Tirem essa mulher d’ahi.