Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/431

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O Cancella voltou para ella os olhos já marejados de lágrimas.

—­Ó menina Magdalena, pois Ermelinda morreu?... Fale, diga-me. Minha filha morreu? A que horas?... como?... Falou em mim? pensou em mim?... Perdoou-me?... Chora, e não responde... Então não me perdoou? Pois minha filha não me perdoou?

Magdalena respondeu a custo:

—­Que tinha ella a perdoar-lhe?

—­Não é verdade que eu lhe queria muito? não é verdade que eu vivia por ella? Agora... que me importa o viver? Como posso eu viver! Ai, se Deus me matasse agora, assim! abraçado a este anjo! Se Deus me matasse!

E outra vez a estreitava nos braços.

Depois, voltando-se para o povo que se conservava alli, perguntou com voz alterada:

—­Que procuram?... Que querem?... o que fazem ahi armados, ao pé de minha filha morta?

—­Queremos que elles a enterrem na igreja—­responderam, já tibiamente, algumas vozes.

—­Na igreja?... Isso é que não! Sabem quem me matou a filha? Foram elles... Esses que m’a tolheram de mêdos, que lhe roubaram as alegrías... que fizeram d’ella isto que ahi vêdes... Pois não a conheciam? Não a tinham visto ahi nos campos, nas novenas e nas festas?... Viram-n’a nunca com estás côres desmaiadas? viram-n’a sem aquelles cabellos louros, que tão bem lhe ficavam? e que elles cortaram sem piedade? E querem-te ainda guardar, desgraçadinha! Não, não te entregarei. Não, não irás lá para dentro. Quero-te aquí, minha filha; aquí, debaixo dos olhares de Deus... Eu mesmo te vou deitar como tantas vezes o fiz quando dormias no berço, que ficará sempre vazio! Ó meu Deus, que vida vae ser a minha, se te não compadeces de mim, Senhor!...

E suffocado de pranto, que rompia agora abun-