Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/438

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—­Mas é o que eu estou dizendo á senhora.

—­É muito padre-mestre. Ora não seja confiado, e veja como responde.

Emfim, este dialogo promettia ser eterno, não obstante a urgencia do serviço de que falava D. Victoria, serviço que ella propria adiava com este importuno sermão.

A entrada da morgadinha operou uma diversão. D. Victoria esqueceu-se do criado, o qual pôde retirar-se sem ser percebido e sem receber as ordens urgentes para que fôra chamado.

D. Victoria principiou a contar a Magdalena o succedido, conforme ella propria o soubera do moço do carro em que viera Henrique.

—­Andam desaforados—­concluiu ella.—­Já nem attendem a uma pessoa de respeito. É porque não ha justiça n’esta terra. Estão para ahi uns patetas de umas auctoridades, que são outros que taes. Era preciso um exemplo. Ahi está quando eu, se fôsse rei, não tinha pena nenhuma: havia de os esquartejar e era bem feito!

Cumpre dizer que D. Victoria não era capaz de bater n’um gato.

A morgadinha contou tambem rapidamente o que succederà no cemiterio.

Então é que trasbordou a indignação da tia.

—­Tu que dizes, menina?... Tu estás a falar sério?... Pois elles?... Em nome do Padre... Que maïs teremos ainda de ver?... Oh meu Deus!... E esses malvados ainda estão na rúa?... Deixa que teu pae ha de ainda saber... Não, isso não fica assim... D’aqui a pouco põem-nos o pé no pescoço. Nada, nada; para os malvados é que se fizeram as forcas... Ora deixa que... Isto aquí anda trama.

—­Não falemos maïs n’isso. Agora vou vêr o estado do ferido.

—­Vae, e vê se encontras por ahi alguns criados. Eu não sei onde elles se metteram. Ha de ser pre-