Magdalena, que o ouvira entrar, animou-o, dizendo:
— Não tenha mêdo, Torquato. A alma de minha madrinha encarregou-me de fazer esta noite as suas vezes. Sou eu.
O espanto do feitor não era agora menor. Esfregava os olhos, como se receiasse estar dormindo, e não passava de olhar para Magdalena, para Henrique e para Christina, sem entrar na explicação do que via.
Custou a fazel-o voltar da sua estupefacção.
Momentos depois entravam todos quatro na sala onde Henrique fôra recebido por Magdalena, e ahi a velha Brizida lhes serviu o chá.
A antiga criada da morgada fez muita festa a Christina, e, como já percebera a casta de sentimentos que havia entre esta e Henrique, soltou algumas insinuações, que a obrigaram a córar, e a rir Magdalena.
Passou-se uma bella noite, conversando-se e rindo-se em perfeita intimidade.
— Que longe estava eu hoje de pensar n’este delicioso serão! — disse Henrique. — Decididamente é de maravilhas esta casa; o povo tem razão. A morgada defuncta foi decerto quem se encarregou de fazer os convites.
— É verdade, como foi que vieram aqui? — perguntou Christina, já mais desenleiada. — Já sei, foi este Torquato que me não guardou segredo. O que merecia!...
— Eu, menina?! Ora essa! Eu até...
— N’este Torquato ha alguma coisa mais para receiar do que a indiscreção — disse Magdalena.
— Que é? — tornou a prima.
— É a discreção.
— Então por quê?
— Torquato é discreto, com umas meias palavras, que exprimem mais do que a verdade.
— Eu... — ia a dizer o velho, justificando-se, quando Henrique o interrompeu.