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A MORGADINHA DOS CANNAVIAES

I


Ao cair de uma tarde de dezembro, de sincero e genuino dezembro, chuvoso, frio, açoutado do sul e sem contrafeitos sorrisos de primavera, subiam dois viandantes a encosta de um monte por a estreita e sinuosa vereda, que pretenciosamente gosava das honras de estrada, á falta de competidora, em que melhor coubessem.

Era nos extremos do Minho e onde esta risonha e feracissima provincia começa já a resentir-se, senão ainda nos valles e planuras, nos visos dos outeiros pelo menos, da vizinhança de sua irmã, a alpestre e severa Traz-os-Montes.

O sitio, n’aquelle ponto, tinha o aspecto solitario, melancolico, e, n’essa tarde, quasi sinistro. D’alli a qualquer povoação importante, e com nome em carta corographica, estendiam-se milhas de pouco transitaveis caminhos. Vestigios de existencia humana raro se encontravam. Só de longe em longe, a choça do pegureiro ou a cabana do rachador, mas estas tão ermas e desamparadas, que mais entristeciam do que a absoluta solidão.

Não se moviam em perfeita igualdade de condições os dois viandantes, que dissemos.

Um, o mais moço e pela apparencia o de mais grada posição social, era transportado n’um pouco